sábado, 5 de maio de 2007

Vida


A vida é feita de sensações e de memórias de sensações. Tenho um amigo que insiste em lembrar as más baseado em datas, como se pensasse: “Hoje é dia de sentir aquilo outra vez.” Quando lembra as boas é com uma saudade tão triste que chega a incomodar. E precisa de ajuda para recordar quando aconteceram. A minha memória prende-se a acontecimentos, ao contrário desse amigo, não fixo datas. Não esqueço as coisas que me magoaram profundamente, mas tenho dificuldade em lembrar quando aconteceram. A não ser quando as datas estão coladas a outros acontecimentos, como o nascimento de um filho ou datas festivas que somos obrigados a lembrar por força das circunstâncias. Também não esqueço as coisas boas que me aconteceram, mas mais uma vez se coloca a questão das datas. As datas não têm valor para mim. Já as emoções perduram para sempre. E como são sensações sentem-se na pele e deixam cicatrizes. As cicatrizes avivam-nos os sentimentos e, portanto, nao importa quando foram provocadas. Ao roçarmos uma cicatriz sentimos outra vez aquilo que a provocou... e revivemos. Nada do que é realmente importante, nada do que nos fez verdadeiramente felizes, nada do que nos magoou se esquece. Estas coisas são aquilo que somos hoje. Não é importante saber quando nos tornamos naquilo que somos. Importante será, talvez, saber como, porquê... Que me perdoem os amigos por não lembrar as datas dos seus aniversários... Lembro como os conheci, em que circunstâncias... Lembro coisas que sentimos juntos... Lembro-os... por muito tempo que passe e os kilometros nos afastem... Lembro-os... mesmo que nunca os tenho tocado... Lembro tudo o que passou por mim e me fez SENTIR.

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