quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Dádiva


Filhos...

Filhos são cadilhos, diz o povo.
Sábio, o povo.

Tantas alegrias, tanto orgulho, tanta emoção são capazes de dar.

Quando são pequeninos, muitos conseguem pressentir a dor dos outros... E aproximam-se... Acarinham... Acalmam...

Por vezes aprendem a ler sozinhos ainda antes de entrarem na escola. Que orgulho para os pais!

Fazem amigos por todos os lugares por onde passam e conseguem conservá-los por muito tempo. Quando se está longe, manter um amigo, manter o contacto, alimentar a amizade não são coisas fáceis (especialmente se somos muito jovens). Mas há jovens que conseguem.

Perceber que vivem debaixo do mesmo tecto que nós, os pais, e não conseguimos estar tão próximos como os amigos que vivem a km é terrivel. Quem são estes jovens?
Umas vezes reconhecemo-los, reconhem-nos, outras olham para nós, os pais, como se fossemos aliens e nós pensamos "quem é este jovem à minha frente?!"

Mas vamos sempre tentando compreender as mudanças (acompanhar é outra história), vamos perdoando os disparates, os abusos, as ofenças (não têm intenção, acho).
Eu, contra mim falo, sou uma "perdoadeira". Perdoo as mesmas coisas várias vezes, prometo a mim mesma que não vou perdoar mais e... dou por mim a perdoar outra vez...

Agora, pergunto: os nossos filhos fazem o mesmo esforço que nós?
Preocupam-se com o que pensamos?
Devem preocupar, por isso é que, às vezes mentem... Deve ser para nos poupar...

Porque é que não consigo acreditar nisto... Qual quê, mentem para se defenderem do "chá", do castigo...
Será que sou eu que estou a ver tudo mal?!
Não deviam, os nossos filhos, preocupar-se connosco?
Não deviam fazer um esforço para entender as nossas razões?

Será que os nossos exemplos de honestidade, compreensão, atenção, carinho é que foram parcos?
Será que já os fizemos sentir como nos fazem sentir a nós?
Injustos.
Mal amados.

Claro que já... decerteza... uma vez ou outra.
E quando demos conta disso? Pedimos desculpa? Dissemos que amavamos?
Claro que sim... uma vez ou outra.

E quando temos razão e ralhamos, castigamos tirando o que mais querem, lembramo-nos de dizer que os amamos? Mesmo que estejamos a ser baleados com balas-raiva ou bombardeados com misseis vocais... é importante dizer que a surpresa de descobrir que não são perfeitos e que cometem erros não diminui o nosso amor.

Os filhos não nos desiludem, não conseguem...
O que acontece, pelo menos comigo, é que nós nos desiludimos. Sentimos que algo falhou, que o primeiro erro foi nosso.

Mesmo assim, espero dos meus filhos a capacidade de me aceitarem como sou e de se esforçarem por tentar compreender os meus motivos.

Será que esta é uma espera longa?
Será que alguma vez vou sentir o que espero?
Cá continuo a esperar.

A eles, peço que esperem que eu consiga mostrar-lhes que são o melhor presente que alguma vez recebi.

Mas entretanto vou dizer aos meus filhos que os amo.

Despedida


É amanhã...
Amanhã levo um dos meus rapazes para viver longe da minha vista.
Porquê?
Sempre ouvi dizer que este era o meu rapaz. O preferido da mamã. O protegido da mamã.
Devo admitir que, até hoje, não aceitei (e continuo a não aceitar) tal teoria.
Não, o Miguel não é o meu preferido mas é o que sempre me preocupou mais.
É o mais sensível, é o mais directo, diz o que pensa sem medo das consequências, não tem receio do confronto, não se acomoda, provoca...
Sabe atingir mortalmente quem o desilude.

Ainda não aprendeu que, na vida, tudo tem retorno.
A vida é como o mar, mais cedo ou mais tarde, devolve tanto de bom como de mau conforme o que lhe entregamos.
O Miguel, como qualquer criança (perdão pré-adolescente), tem vindo a descobrir que não somos todos iguais, que, por vezes, não podemos agradar a todos, não conseguimos tudo o que desejamos da forma como o imaginamos... e reagiu...
Escolheu caminhos que trouxeram maus resultados e perdeu confiança em si mesmo. Perdeu a confiança e admiração dos que antes faziam dele um super menino.
Na sua forma de ver o mundo, a sua verdade é a única. A verdade dos outros não conta.

A verdade, ou lá o que isso seja, é que o Miguel é demasiado grande para este meio em que vive. Está a acomodar-se e a perder oportunidade de mostrar o que vale. Está a escolher os caminhos que lhe dão a ilusão de ser o maior. E tem tido apoio, devo dizer, da própria mãe que não tem conseguido mostrar-lhe esta pequenês. Talvez o truque seja mostrar-lhe outros céus e deixá-lo voar.
Vai voar, o meu filho, vai voar sob o olhar atento e mais aberto do pai. Conto com a família de Lisboa (felizmente é grande e das melhores que podemos desejar) para lhe servir de rede se cair , para partilhar o ninho quando sentir falta das outras crias.
Eu vou estar por aqui... por aí... a torcer pela felicidade das crias destes ninhos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

De volta


Depois de um recado bem dado, decidi pegar no teclado e... teclar.
Já lá vai um tempito...
Entre uma gripe viral do meu computador, que não há meio de passar (este degraçado não tem médico de família, deve ter a mania de que é gente) e uma certa angústia, que não se limitou a vir para o jantar, sem saber que seria da minha vida profissional, o tempo foi passando e as palavras ficaram presas sei lá onde...
Mas pronto, comecei a trabalhar. O mesmo trabalho, os mesmos locais mas novos desafios.
Numa altura em que se fala de depressão provocada pelo terminar das férias e o regresso ao emprego, eu dou por mim na maior das alegrias porque chegou o primeiro dia de trabalho.
Talvez seja essa a diferença: eu tenho um emprego que entendo como trabalho.
Na minha profissão não faço todos os dias as mesmas coisas.
O trabalho que escolhi leva-me todos os dias a mundos diferentes.
No meu trabalho tenho o privilégio de aprender a ver nas trevas, a ouvir com os olhos e com a pele, a comunicar com o olhar e com todo o corpo, a pensar como uma criança que sofre por não ser aceite, a sentir como um dependente, a celebrar a água que corre numa torneira ou a luz que se acende como se de bençãos se tratasse...
Acima de tudo, permite-me conhecer seres humanos maravilhosos e perceber que a riqueza está na diferença. Que aprenderíamos uns com os outros se fossemos todos iguais?
É difícil? É.
É desgastante? É.
É frustrante? Ás vezes.
É emocionante? É.
É compensador? Muitas vezes.
Basta-me para dizer:

MENINOS, VOLTEI!