quarta-feira, 27 de maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

Boa noite

E ele ali tão perto... Com um daqueles amuos que ninguém sabe ao certo de onde vêm.
Cheguei tarde da minha formação, mas ainda com trabalho para terminar, dos putos nem sinal (soube que o mais novo foi para a cama quase sem comer) e ele ali... à frente do pc, a cuscar na net, a jogar um joguinho de cartas e... a cuscar na net.
Sentei-me à frente do MEU pc e lá fui terminar o que não consegui no raio da formação.
De vez em quando um sorriso começava a chegar lá do outro lado.
E, mais de vez em quando ainda, um abanãozito na mesa.
A expressão lá foi desanuviando e a pressão também.
Era música que, do outro lado, se ouvia.
No entretanto um pedaço de chocolate criminoso e muito de vez em quando um "tens de ouvir isto" ou um "ouve só um bocadinho".
Que bom que há chocolate!
Que bom que há música!
O dia ainda vai terminar com uma boa noite e isso é tudo o que interessa.

domingo, 10 de maio de 2009

Amigos


Não acredito em melhores amigos.
Há amigos.
Damos e recebemos coisas diferentes a e de todos.
Não acredito em amigos de longa data.
Depois de os sentirmos como amigos a antiguidade não conta.
Não há amigos iguais e não os sentimos a todos como iguais.
Não gostamos de todos os nossos amigos da mesma forma.
Claro que fazemos distinções entre os amigos, há em todos algo de nós ou em nós algo de todos eles. Nunca há tudo de nós neles nem tudo deles em nós...
Acredito que temos amigos diferentes do que somos e sentimos.
Porque é que são nossos amigos?!
Porque há alguma coisa que invejamos (embora raramente, a inveja pode ser uma coisa boa) uns nos outros ou porque também se aprende e cresce com a diferença.
Não acredito no "amigo do meu amigo...".
Algumas vezes, o amigo do meu amigo continua a ser apenas isso mesmo. Caso contrário seria também meu amigo, porque nesta coisa de amigos ou se é ou não.
Acredito que um amigo possa deixar de o ser. Se quiser ou se quisermos. Nunca porque alguém o obriga.
Acredito em zangas e reconciliações entre amigos.
A amizade depende da reciprocidade.
Acredito que podemos cativar ao ponto de ganharmos um amigo e vice-versa.
Não acredito que os laços de amizade se criem num dia.
Acredito que há amizades que demoram a acontecer.
Sei que há amizades que se pressentem impossíveis ao primeiro contacto.
Não acredito em "meios amigos", não há mais ou menos amizade.
A amizade tem de ser inteira. Ou há ou não há.
A um estranho ajudamos quando precisa ou quando nos pede, isto não é amizade é solidariedade.
A um amigo não ajudamos, partilhamos soluções, recursos, emoções...
Temos segredos que guardamos dos nossos amigos,coisas parvas e pouco interessantes, e outras que não têm propriamente a ver connosco mas sim com terceiros que não queremos ver mal entendidos e injustamente julgados (porque são nossos amigos).
Aquilo que somos, a nossa essência, não a escondemos dos amigos. Não temos medo que nos leiam, não receamos que não nos compreendam. Porque, com os amigos, podemos sempre argumentar e tentar que nos entendam.
Acredito que a amizade acontece porque se quer e não por acaso.
Acredito que podemos querer ser amigos de alguém que conhecemos por um qualquer acaso.
Acredito que a amizade não se mede pela quantidade de amigos que se tem.
Os amigos não se coleccionam porque não podemos guardá-los em vitrines.
Os amigos guardam-se no coração e o coração não tem prateleiras.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Rapaz dos Retrovisores


Em todas as terras há pessoas diferentes, especiais. Tão especiais que se tornam como que símbolos dos lugares onde vivem. Todos os da terra os conhecem e aos forasteiros dão-se a conhecer.
Em Penalva havia um rapaz, nunca deixou de ser um rapaz, que alegrava todos, fazia os recados a quem lhe pedia, falava alto e nunca ninguém percebia à primeira o que dizia. Corria pela vila apenas porque não conseguia evitar aquelas corridas loucas.
Não fazia mal a uma mosca, mas alguns fizeram-lhe mal. Ensinaram-lhe que para ser um homem devia beber... e, para receber o que pensava ser atenção e respeito, aprendeu a beber. Acho que nunca chegou a perceber que esses não o respeitavam.
Há um homem que desde que percebeu que para ser feliz devemos fazer o que nos dá prazer começou a correr. Corre até hoje, todos os dias e ganha corridas. Ganhou a mais importante de todas, o respeito e a admiração dos seus conterrâneos.
Nos Açores encontrei outros assim especiais.
Os dois do mesmo lugar, coincídências...
Um, jovem, caminha pela terra com um aparelho estranho. Nunca soube se criação sua ou de outros. Chamei-lhe o rapaz dos retrovisores. Nunca o vi sem eles. Eram um dispositivo estranho, que segurava nas as mãos, com uns espelhos retrovisores adaptados. Um ano mais tarde, quando voltei a vê-lo já o aparelho era mais sofisticado e podia ser suportado pelos ombros o que lhe permitia libertar uma mão, que a outra estava ocupada com a "condução" (o rapaz não usava aquelas calças especiais que permitem uma melhor aderência ao volante e, na verdade, nem sequer conduzia sentado), mas como dizia, libertava uma mão que usava como telemovel. Sim, a mão era o telemovel.
No mesmo lugar, vivia uma velhinha, curvada pelo peso da idade, que caminhava devagar e que carregava sempre a mesma e enorme saca de sarapilheira que devia ter sido, um dia, castanha e que parecia pesada. Quase todos os dias a encontrava em Vila Franca do Campo. Um dia sentou-se à minha porta e quando nos viu chegar pediu desculpa e aproveitou para perguntar se eu tinha um balde. Percebi a urgência, expliquei-lhe que não tinha um "balde" mas algo parecido e convidei-a, desculpando-me, a subir a escada íngreme para chegar à casa de banho. Temi que recusasse. Não... aceitou e agradeceu.
A senhora está à espera de alguém? (Pensei, pois ela estava sentada num degrau duma casa na rua principal, só podia esperar alguém)
Claro que esperava, uma boleia incerta com nome e tudo mas só porque às vezes passava por ali àquela hora. A última camioneta já tinha sido perdida à conta desta boleia incerta ou de outras, importante mesmo era evitar o gasto do bilhete. Alguém havia de passar e levá-la de volta ao lar.
E se não vier, como fará?
Vou a pé, mas alguém há-de passar.
E não é que tinha razão?! Por algum motivo ela tinha pousado à minha porta!
Venha lá, que eu levo-a. Onde mora?
Em Água de Pau.
Céus, a sete ou oito km dali. E esta velhinha aventureira percorria-os a pé, MESMO, porque já a tínhamos visto outras vezes à beira da estrada.
Lá peguei na saca de sarapilheira que pesava, ao que me pareceu, uma tonelada.
A caminho do carro lá tive de ouvir o taberneiro dizer:
Vás incomodá a senhôra, porque não foust na camiunét?!
Pelo caminho interrogou-me acerca da família. Disse-lhe que tinha três pequenos.
Nan se qué más... Nan se qué más, q'rida!
Vou voltar aos Açores...
Gostava de voltar a ver estas personagens.
Estou curiosa...
Será que o rapaz dos retrovisores já tem um telemovel?

domingo, 3 de maio de 2009

Vazio


Cento e vinte e três dias de 2009 estão passados, ou quase. Destes, alguns deviam ter sido especiais, alguns foram... nem todos pelas melhores razões.
Pela amostragem, 2009 será ano de colheitas más embora a sabedoria popular preveja bom pão e vinho. Mas nem só de pão vive o homem e, por mim falo, eu não consigo viver só com isto. O que resta é pobre e começo a sentir-me desnutrida.
A tolerância é o nutriente maior na cadeia alimentar do espírito e começa a escassear. Tem sido tão rara que já não me lembro do que seja. Não a sinto, não a manifesto... Devo ter esgotado todas as reservas...