sexta-feira, 27 de março de 2009

Perfume


Porque será que tenho tanta dificuldade em memorizar as caras das pessoas com quem me cruzo?!
Lembro-me do tempo em que bastava um olhar para fixar a fisionomia de alguém.
Quando e se nos voltassemos a cruzar eu saberia dizer onde e quando tinha visto aquela pessoa.
Hoje já não consigo esta proeza.
Hoje vi... amanhã não lembro...
É como se , de repente, perdesse qualquer capacidade de discriminação visual.
Todos são iguais, todos são diferentes.
É-me indiferente que sejam uma coisa ou a outra.
Os nomes das pessoas... os nomes são mesmo difíceis.
Só consigo fazer corresponder um nome a um corpo depois de bastante tempo.
Mas, pensemos um pouco: um nome pode representar quase nada.
O mesmo nome é usado para indicar tantas pessoas!!
Os nomes (perdoem-me os que valorizam esta questão) são quase como que etiquetas, rótulos.
Se não estamos familiarizados com o conteúdo do frasco, recorremos ao rótulo (Ah!!! isto são oregãos, bolas, são parecidos com o mangericão!).
Se sou eu que faço o doce de tomate nem etiqueto o frasco. Fui eu quem fez! Fui eu quem embalou! Doce de tomate até é comum em casa!...
Acho que acontece o mesmo com as pessoas.
Quando consigo apoderar-me, por pouco que seja, da sua essência já consigo fazer corresponder os dois.
Já com os cheiros a relação é diferente.
Há pessoas que têm cheiros que são só delas.
Há cheiros que são de muitos.
Há cheiros que são únicos, tão únicos que os "colamos" a alguém.
Água de colónia perfumada com rosas lembra-me a minha mãe.
Durante muito tempo (os perfumes duravam uma vida com a minha mãe) recordo o frasco transparente da água de rosas que punha ao Domingo para ir à missa ou em alguma outra ocasião especial.
Há pessoas que usam o mesmo perfume durante tanto tempo que se confundem com eles.
Lá voltamos à vaca fria: não sei os nomes dos perfumes nem dos seus criadores, conheço-os pelos que os usam.
Há o perfume da Dina.
E o da Anabela (que aposto é o mesmo depois de dez anos sem a ver).
E o da Marta.
O da Lenea, que tem a particularidade de ainda se sentir suavemente no nosso quarto dos amigos.
E há o cheiro da minha mãe.
Até eu já tenho o MEU perfume, porque nunca usei outro até ao dia em que me atraiu numa loja em Paris.
Até já há quem o reconheça, de facto, como o meu cheiro (o que me deixa bem feliz).
Mais cedo ou mais tarde, acabo por descobrir o odor de cada pessoa que se demora na minha vida.
Há pessoas que não têm cheiro.
Nem bom... nem mau...
E quando alguém, subitamente, deixa de me cheirar...
Não vai demorar-se...
Conclusão?
Tenho a memória directamente relacionada com o olfacto?!



3 comentários:

Um pedaço de azul... um BloGui diferente disse...

Não, amiga, arrisco eu agora...lol O olfacto é o único sentido que nunca se perde... sério. A tua memória olfactiva é permanente.
Adoro os teus textos, mais aindo os teus conselhos. Voltei a perder o teu número de telefone e voltei a aperceber-me de que o EU VI ASSIM afinal não acabou...
O Gui está melhor, fiz tudo o que a pedi recomendou...
da outra ve, das dermatites, fiz tudo tal e qual mandaste. Resultou. Devo dizer-te que até hoje nem mais uma apareceu! O menino caga e eu lavo... mas toalhetes: auf wiedersehen! ;-)
É um amor. tenho saudades.
Escreve mais... escreves tão bem... ah... e eu conheço uns blogs muito giros que qualquer dia partilharei contigo... e
toma lá um beijo e não digas que não te ligo!
;-)
beijos

Psantos disse...

Tenho tanto orgulho em ti e no que escreves, que me martirizo de te ajudar pouco. Se o fizesse mais, terias mais tempo para escrever.
Como escreves bem. Mais uma das areas em que nos completamos.~
Beijo!

Um pedaço de azul... um BloGui diferente disse...

Paulo santos, como tens razão... o tempo que lhe falta para escrever dedica-os a vocês, sei-a bem... ela é assim, mas fá-lo altruistamente. Contudo, se escrevesse mais, conseguiria prender-nos ainda mais e mais e mais... aos seus textos! Adoro!
beijos Xiti