terça-feira, 14 de julho de 2009

Imagens... para quê?!

Tenho um amigo... Ou não tenho?!
Sei que ele quer ser meu amigo, acho que já é.
Eu estou a aprender a ser sua amiga, porque ser amigo nem sempre é fácil e há amigos difíceis de aprender a gostar. Sim, porque é preciso saber gostar.
E enquanto penso que ainda não aprendi, o amigo deixa-me lágrimas nos olhos.
Porque este homem é mulher no sentir.

Então e a dor?
Acham que conhecem a dor?
Por acaso a sentiram alguma vez, nas tripas, ao ponto de nem conseguirem gritar?
A dor de entender um pouco, ou de não gostar de como isto tudo é, ou de gostar demais que é a mesma coisa, a dor de estar a torcer-me de dores por já não conseguir sentir dor, a dor de estender-me para ti, e para ti, e para ti, e tu não estares lá, a dor de querer tanto e afinal não existir nada, e de te comer e ficar com tanta fome, como se o deserto...

O deserto está nos corpos? Ou nas almas? E as almas? Onde estão as almas? Dizem que sou insatisfeita compulsiva. Sei lá o que é isso do compulsiva.
mas insatisfeita, estou. Isto está errado. Está errado, porque a vida é muita e não cabe. E eu sinto dor. E não sei a quem dizer, mas sinto tanta dor de não estar morta. De não estar viva por não estar morta. E eu queria estar morta, para parar de sentir estes nervos, esta coisa que não sei dizer a ninguém nem sequer a mim. A mim eu digo, mas depois não compreendo, e tu...

Tu apareceste e não viste nada. Mas eu vi-te. És a solução errada de tudo o que está certo. E sei que não vai dar, mas se desse... Se desse, a dor... Matei um veado em sonhos, e o veado era eu, era uma corça, e estava com cio, as corças... um dia ouvi, numa floresta, o grito dos veados com cio, e era tão parecido com isto. Isto não sei que nome tem. Mas não é morte. Também não é vida. É dor, pronto. Apareceste e não viste a dor. E abracei-te com tanta força, e quis morder-te para sentires dor, mas não mordi. Nunca mordo.
Nunca morro. Nunca sei.

Estou a cair, e nunca sei cair, e tu abraçaste-me. Dei-te o meu corpo, e não deste pela dor. Como é possível? Acho que te amo. Sei que estou morta e que te amo, como o grito do veado, como o volante do meu carro quando acelero, como as curvas perigosas, como a melancolia, como a dor.

E se me abraçasses. Era tão diferente se pudesse ser diferente. Estou tão confusa porque sinto dor. Tão confusa. Não sei quem matar. Já estou morta, não sei quem matar. E se me matasses. E se me abraçasses, e me matasses, e eu te dissesse ao ouvido que a vida sem dor é que é, com música, com música, que surdo, que surdo que isto tudo é...


Manuel Cintra

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